“Um fato muito estranho vem ocorrendo atualmente
na Rua des Noyers. O Sr. Lesage, ecônomo do Palácio de Justiça,
ocupa um apartamento nessa rua. Desde algum tempo projéteis
vindos não se sabe de onde vêm quebrar as vidraças, penetrando o
interior da casa e atingindo os que ali se encontram, de modo a ferilos
mais ou menos gravemente. São fragmentos bastante
consideráveis de lenha semicarbonizados, pedaços de carvão de
pedra muito pesados e até dos chamados carvões de Paris. A
doméstica do Sr. Lesage recebeu vários no peito, resultando em
fortes contusões.
“A vítima desses sortilégios acabou por requerer a
assistência da polícia. Agentes foram postos em vigilância; mas eles
próprios não tardaram a ser atingidos pela mesma artilharia
invisível, sendo-lhes impossível saber de onde vinham os golpes.
“Tendo a existência se tornado insuportável numa casa
em que surpresas desagradáveis poderiam ocorrer a qualquer
momento, o Sr. Lesage solicitou ao proprietário a rescisão do
contrato. Aceito o pedido, e a fim de redigir a ata rescisória,
mandaram vir o Sr. Vaillant, oficial de justiça, cujo nome convinha
perfeitamente numa circunstância em que as citações não poderiam
ser feitas sem perigo.
“Com efeito, tão logo o funcionário ministerial
começou a redigir o ato, um enorme pedaço de carvão, lançado
com extrema violência, entrou pela janela e foi bater contra a
parede, reduzindo-se em pó. Sem se perturbar, o Sr. Vaillant serviuse
do pó para espalhá-lo sobre a página que acabava de escrever, da
mesma forma que, outrora, Junot se servira da terra levantada pela bomba.
“Em 1847 ocorreu um fato análogo na Rua des Grès,
cujo relato então fizemos. Um tal L..., mercador de carvão, também
servia de alvo a fantásticos sagitários, e essas incompreensíveis
emissões de pedras punham em polvorosa todo o quarteirão.
na Rua des Noyers. O Sr. Lesage, ecônomo do Palácio de Justiça,
ocupa um apartamento nessa rua. Desde algum tempo projéteis
vindos não se sabe de onde vêm quebrar as vidraças, penetrando o
interior da casa e atingindo os que ali se encontram, de modo a ferilos
mais ou menos gravemente. São fragmentos bastante
consideráveis de lenha semicarbonizados, pedaços de carvão de
pedra muito pesados e até dos chamados carvões de Paris. A
doméstica do Sr. Lesage recebeu vários no peito, resultando em
fortes contusões.
“A vítima desses sortilégios acabou por requerer a
assistência da polícia. Agentes foram postos em vigilância; mas eles
próprios não tardaram a ser atingidos pela mesma artilharia
invisível, sendo-lhes impossível saber de onde vinham os golpes.
“Tendo a existência se tornado insuportável numa casa
em que surpresas desagradáveis poderiam ocorrer a qualquer
momento, o Sr. Lesage solicitou ao proprietário a rescisão do
contrato. Aceito o pedido, e a fim de redigir a ata rescisória,
mandaram vir o Sr. Vaillant, oficial de justiça, cujo nome convinha
perfeitamente numa circunstância em que as citações não poderiam
ser feitas sem perigo.
“Com efeito, tão logo o funcionário ministerial
começou a redigir o ato, um enorme pedaço de carvão, lançado
com extrema violência, entrou pela janela e foi bater contra a
parede, reduzindo-se em pó. Sem se perturbar, o Sr. Vaillant serviuse
do pó para espalhá-lo sobre a página que acabava de escrever, da
mesma forma que, outrora, Junot se servira da terra levantada pela bomba.
“Em 1847 ocorreu um fato análogo na Rua des Grès,
cujo relato então fizemos. Um tal L..., mercador de carvão, também
servia de alvo a fantásticos sagitários, e essas incompreensíveis
emissões de pedras punham em polvorosa todo o quarteirão.
Paralelamente à casa habitada pelo carvoeiro havia um terreno
vago, em meio ao qual se achava a antiga igreja da Rua des Grès,
hoje Escola dos Frades da Doutrina Cristã. A princípio imaginaram
que de lá partiam os projéteis, mas logo tal ilusão se desfez.
Quando vigiavam de um lado, as pedras chegavam do outro.
Entretanto, eles acabaram surpreendendo em flagrante o mágico,
que não era outro senão o próprio Sr. L... Tinha recorrido a essa
fantasmagoria porque estava descontente na casa e desejava
rescindir o contrato.
“Não foi o que se deu com o Sr. Lesage, cuja
honorabilidade excluía qualquer idéia de artimanha e, aliás, estava
muito contente com o seu apartamento e o deixou com pesar.
“Espera-se que o inquérito, conduzido pelo Sr. Hubaut,
comissário do bairro da Sorbonne, esclareça o mistério, que talvez
não passe de uma brincadeira de mau gosto, excessivamente
prolongada”.
vago, em meio ao qual se achava a antiga igreja da Rua des Grès,
hoje Escola dos Frades da Doutrina Cristã. A princípio imaginaram
que de lá partiam os projéteis, mas logo tal ilusão se desfez.
Quando vigiavam de um lado, as pedras chegavam do outro.
Entretanto, eles acabaram surpreendendo em flagrante o mágico,
que não era outro senão o próprio Sr. L... Tinha recorrido a essa
fantasmagoria porque estava descontente na casa e desejava
rescindir o contrato.
“Não foi o que se deu com o Sr. Lesage, cuja
honorabilidade excluía qualquer idéia de artimanha e, aliás, estava
muito contente com o seu apartamento e o deixou com pesar.
“Espera-se que o inquérito, conduzido pelo Sr. Hubaut,
comissário do bairro da Sorbonne, esclareça o mistério, que talvez
não passe de uma brincadeira de mau gosto, excessivamente
prolongada”.
94. Citaremos a respeito à conversação suscitada pelos fatos verificados em junho de 1860 na rua Dês Noyers, em Paris. Os pormenores se encontram na Revista Espírita de agosto de 1860.
1. (A São Luís) Teria a bondade de nos dizer se os fatos que dizem ter ocorrido na rua Dês Noyers são reais? Quanto á sua possibilidade não temos dúvidas.
— Sim, esses fatos são verdadeiros, mas a imaginação do povo os exagerou, seja por medo ou por ironia. Entretanto, repito, são verdadeiros. Foram manifestações de um Espírito que se diverte um pouco com os moradores.
2. Há alguém, na casa, que dê motivo a essas manifestações?
— Elas são sempre provocadas pela presença de uma pessoa detestada. O Espírito perturbador se aborrece com o habitante do lugar em que ele se encontra e quer pregar-lhe algumas peças ou fazê-lo mudar-se.
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3. Perguntamos se há, entre os moradores, alguém que seja a causa dos fenômenos, em virtude de mediunidade espontânea e involuntária.
— Isso é necessário, pois sem isso o fato não poderia se dar. Um Espírito mora num lugar de sua predileção. Enquanto ali não aparece uma pessoa de que se possa servir, fica sem ação. Quando essa pessoa aparece, então ele se diverte quanto pode.
4. A presença dessa pessoa no próprio lugar é indispensável?
— É o mais comum e foi o que aconteceu no caso citado. Por isso eu disse que sem isso o fato não teria ocorrido. Mas não quis generalizar. Há casos em que a presença no local não é necessária.
5. Sendo esses espíritos de ordem inferior,a aptidão para lhes servir de auxiliar é uma indicação desfavorável para a pessoa? Indica uma simpatia de sua parte para com os seres dessa natureza?
— Não precisamente, porque essa aptidão decorre de uma disposição física. Mas indica quase sempre uma tendência material que seria preferível não possuir, pois quanto mais elevada moralmente, mais à pessoa atrai os Bons Espíritos, que necessariamente afastam os maus.
6. Onde o espírito vai buscar os objetos que atira?
— Esses objetos são quase sempre encontrados no próprio lugar ou na vizinhança. Uma força que sai do Espírito os lança no espaço e os faz cair onde ele quer.
7. Desde que as manifestações espontâneas são muitas vezes permitidas e até mesmo provocadas com o fim de convencer, parece-nos que se alguns incrédulos fossem o seu alvo seriam forçados a render-se à evidência. Eles às vezes se queixam de não haver testemunhado fatos concludentes. Não dependeria dos Espíritos dar-lhes alguma prova sensível?
— Os ateus e os materialistas não testemunham cada instante os efeitos do poder de Deus e do pensamento? Mas isso não os impede de negar a Deus e a Alma. Os milagres de Jesus converteram todos os seus contemporâneos? Os Fariseus que lhe diziam: “Mestre, fazei-nos ver algum prodígio”, não se pareciam com esses que hoje vos pedem para ver manifestações? Se não se deixam convencer pelas maravilhas da Criação, não seriam mais tocados pelo aparecimento de um Espírito, mesmo da maneira mais evidente, pois o seu orgulho os transforma em animais empacados. Não lhes faltariam ocasiões de ver, se eles as procurassem de boa fé. É por isso que Deus não julga conveniente fazer por eles mais do que não faz nem mesmo para aqueles que sinceramente buscam instruir-se, porque ele só recompensa os homens de boa vontade Essa incredulidade não impedirá que se cumpra à vontade de Deus. Já vistes que ela não impediu a expansão da doutrina. Não vos inquieteis, pois, com a sua oposição, que é para a doutrina como a sombra numa pintura: dá-lhe maior relevo. Que méritos teriam eles se fossem convencidos à força? Deus lhes deixa a responsabilidade da teimosia, e essa responsabilidade é mais pesada do que pensais. Felizes os que crêem sem ter visto, disse Jesus, porque eles não duvidam do poder de Deus.
8. Achas convenientes evocar esse Espírito para lhe pedirmos algumas explicações?
— Evoca-o se o quiseres, mas é um Espírito inferior,que só dará respostas de pouca significação
95. Conservação com o Espírito perturbador da rua Dês Noyers:
1. Evocação.
— Por que me chamaste? Queres, acaso, umas pedradas? Então é que se veria um belo corre-corre, apesar do teu ar de bravura!
2. Mesmo que nos desses pedradas, isso não nos assustaria. Pedimos até, se puderes, que nos dês algumas.
— Aqui talvez eu não pudesse. Tendes um guardião que vela muito bem por vós.
3. Na rua Dês Noyers havia alguém que te servia de auxiliar nas peças que pregavas aos moradores?
— Certamente. Encontrei um bom instrumento. E não havia nenhum Espírito douto, sábio e prudente para me impedir. Porque eu sou alegre e gosto, às vezes, de me divertir.
4. Quem te serviu de instrumento?
— Uma criada.
5. Ela te auxiliava sem saber?
— Oh, sim! Pobre moça! Era a mais assustada!
6. Tinhas algum propósito?
— Eu? Eu não tinha nada contra ninguém. Mas os homens que de tudo se apossam torcerão a coisa em seu proveito.
7. Que queres dizer? Não te compreendemos.
— Eu procurava me divertir, mas vós estudareis a coisa e tereis mais um fato para provar que nós existimos.
8. Dizes que não tinhas propósito hostil, mas quebrastes todas as vidraças do apartamento, causando um prejuízo real.
— Isso é um detalhe.
9. Onde encontraste os objetos que atiravas?
— São muito comuns. Achei-os no pátio e nos jardins vizinhos.
10. Achaste todos ou fabricaste alguns? (Ver o Cap. VIII)
— Eu não criei nada, nada compus.
11. Se não os encontrasses, terias podido fabricá-los?
— Teria sido mais difícil. Mas, em último caso, a gente mistura matérias e faz qualquer coisa.
12. Agora, conta-nos como os atiraste.
— Ah, isso é mais difícil de dizer! Servi-me da natureza elétrica daquela moça, ligada à minha, que é menos material. Assim pudemos, os dois, transportar aqueles diversos materiais.
13. Penso que concordarás em nos dar algumas informações sobre a tua pessoa. Diga-nos primeiro se morreste há muito tempo.
— Faz muito tempo, há bem uns cinqüenta anos.
14.Que foste em vida?
— Não era grande coisa. Catava bugigangas neste bairro e às vezes me atiravam injúrias porque eu gostava muito do licor vermelho do bom velho Noé. Eu também queria pô-los a correr.
15. Por ti mesmo e de tua plena vontade que respondeste ás nossas perguntas?
— Eu tinha um instrutor.
16. Quem é esse instrutor?
— Vosso bom rei Luis.
Nota de Kardec: Esta pergunta foi feita por causa da natureza de algumas respostas que pareciam além da capacidade do Espírito, tanto pelas idéias quanto pela forma da linguagem. Nada demais que ele tenha sido ajudado por um Espírito mais esclarecido, que queria aproveitar a ocasião para nos instruir. Esse é o fato comum. Mas uma particularidade notável deste caso é que a influência do outro Espírito se fez presente na própria escrita.
Nas respostas em que ele interferiu a escrita é mis regular e corrente; nas do trapeiro é angulosa, grossa, irregular, muitas vezes pouco legível, revelando um caráter muito diverso(7)
17. Que fazes agora? Cuidas do futuro?
— Ainda não. Ando errante. Pensam tão pouco em mim na Terra que ninguém ora por mim: assim não tenho ajuda e não trabalho.
Nota – Veremos logo mais quanto se pode contribuir para o progresso e o alívio dos Espíritos inferiores, através da prece e dos conselhos.
18. Qual era teu nome em vida?
— Jeannet
19. Muito bem, Jeannet, faremos preces por ti. Diga-nos se a evocação te deu prazer ou te contrariou.
— Antes prazer, porque sois boa gente, alegres viventes, embora um pouco severos. Pouco importa: me escutastes e estou contente. Jeannet.
FONTE: O Livro dos Médiuns e Revista espírita do mês de agosto de 1860
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